Prefiro ir pela escada...

Subiu pelas escadas como de costume. Quatro andares, pulando de dois em dois. Paciência nunca foi o seu forte, elevador cheio irritava. O esbarrão foi um só. Não precisava de mais. Ela caiu por cima dele, que se escorou na parede.
A bolsa dela desceu até o andar de baixo.
Seus olhos se cruzaram, as bocas próximas. Respirou fundo. Sentiu o perfume dele. Inebriante. O ar lhe faltava. Não sabia o que fazer. Pra onde olhava. Devia se levantar? Onde estava sua bolsa? Onde tinha deixado toda a sua segurança?
As mãos dele passaram pela sua cintura, balbuciou alguma coisa que não pôde identificar, mas parecia desculpa, ou obrigada. Ele não sabia. Os seios dela a mostra pelo decote do vestido atraiam o seu olhar, e ele nada conseguia fazer, além de permanecer com as mãos na cintura dela, enquanto o peso do seu corpo ficava sobre o seu.
Ela sabia que devia se levantar dali. Mas não encontrava forças. Se sentiu segura.
E se entregou aquele beijo. Como se o conhecesse há anos. Ou como se fosse o último. Buscando seu calor e sua boca. Suas mãos percorriam por todo corpo dela buscando muito mais que seu corpo simplesmente, ele a queria inteira.
Queria sua alma, seu desejo, seus pensamentos.
Perdido no beijo, sentindo o peso sobre si.
O sinal do elevador do andar de cima tocou.
Ela abriu os olhos, e sabia que a vida real a aguardava.
Ainda que ali estivesse muito bom.
Aquele homem lindo e gostoso devia ser comprometido. E pra ela bastava disso.
As pessoas saíram do elevador, a bolsa caída no chão. Eles se arrumaram tímidos, ela ficou em pé e ele ajeitou a blusa. Ele pegou a bolsa e a entregou. Pediu desculpas pelo esbarrão. Nenhuma outra palavra. Se olharam. Precisavam se despedir. Ela segurou seu rosto e o beijou mais uma vez. Ela desceu as escadas, e ele encontrou sua noiva no andar de cima.